A roleta.

- Moço, o senhor sabe se esse ônibus passa na Getúlio Vargas?
- Não sei dona, mas acho que passa.
- É tanto ônibus que a gente até confunde né?
- É sim. A senhora quer que ajude com as sacolas?
- Ah, faz o favor. Sabe como é né, em dia de promoção agente tem que aproveitar.
- É verdade, do jeito que as coisas estão pela hora da morte tem que aproveitar quando tem oferta. Olha dona, vou entrar pela porta da frente, depois a senhora pega a sacola comigo.
- Ô seu trocador, o senhor pode passar essa sacola pra mim?
- Claro, me dá aqui.
- Toma cuidado que os ovos pra fazer o bolo da dona Vilma estão aí dentro.
- Pode deixar dona.
- Nossa, como essas roletas são espremidinhas, nem dá pra passar direito.
- Ô minha senhora anda logo que eu quero entrar.
- Calma aí minha gente que a senhora ficou presa na roleta.
- - Ih a gorda ficou agarrada, agora ninguém mais entra.
- Gorda é a senhora sua mãe.
- Que nada, minha mãe é magrinha que nem eu.
- Deve ser desgosto de ter um filho como você.
- Calma senhora, tenta rodar a roleta mais uma vez.
- Tô tentando meu filho mas não tá dando!!
- Tenta murchar a barriga que eu giro a roleta.
- Não dá moço.
- Então tenta voltar e entrar pela porta da frente.
- Também não tá dando.
- Ô motorista, vamos logo com isso que eu tô com pressa.
- Calma aí minha gente, primeiro tem que desentalar a dona.
- Pera í que eu vou ajudar. Eu empurro a senhora e o trocador gira a roleta.
- Ai moço, cuidado pra não me machucar.
- Vamos lá, um, dois, três.
- Empurra!!
- Tô tentando mas não desagarra de jeito nenhum.
- Pera í que eu vou puxar enquanto você empurra.
- Anda logo, puxa aí!
- Tô puxando mas não dá!
- Vai de novo. Um, dois, três!
- Ai moço!!
- Calma dona, pelo menos desagarrou.
- Nossa obrigada, não agüentava mais ficar entalada aí. Não vejo a hora de chegar na Getúlio Vargas.
- Getúlio Vargas? Mas esse ônibus não passa lá não. Ele tá indo pro Jardim dos Alfineiros.
- Ih moço, pára esse ônibus que eu quero descer!!!