domingo, 3 de agosto de 2008

A entrevista.

- Bom dia senhora Ana, podemos começar a entrevista?
- Claro, o senhor só não estranhe se eu gaguejar. É que eu estou um pouco nervosa.
- Isso é normal. Eu irei lhe fazer algumas perguntas e a senhora me responde o que quiser tudo bem?
- Tá.
- A senhora se acha uma profissional competente?
- Como assim competente? Você acha que não tenho capacidade para trabalhar nessa empresa não?
- Não senhora, o que eu quis dizer é...
- Pois fique o senhor sabendo que eu sou muito competente, já trabalhei em muitos lugares e com carteia assinada viu!
- Tudo bem, vamos para segunda pergunta. A senhora se considera bem informada?
- Mas é claro que sim, que pergunta besta! Eu não perco um capítulo da novela das oito!!!
- Além da novela das oito, o que mais a senhora assiste?
- Ah, eu gosto também daqueles programas de receita sabe?
- Programas de receita...
- É. Imagina o senhor que outro dia eu aprendi fazer um bolo de milho que é uma beleza!! O senhor gosta de bolo de milho?
- Nunca comi...
- Ah, mas o senhor devia experimentar, é uma maravilha que só vendo!
- E a senhora gosta de ler?
- Ah se gosto!!!
- É mesmo?
- Compro toda semana aquelas revistas que mostram a casa dos artistas sabe? Tem cada casa bonita que só vendo!
- Sei... E cursos a senhora fez algum?
- Ishi vários. Lá na igreja do meu bairro foram uns moço ensinar a gente a fazer um monte de coisa. Eu aprendi fazer doce de compota, crochê e até pano de prato pintado!!
- Pano de prato?
- É sim senhor, fica bonito que só vendo!! O senhor sabe que até vendi uns na minha rua!
- Bem, e a senhora tem facilidade para falar ao telefone?
- Ô se tenho!! Eu adoro falar no telefone, lá na minha casa não tem não, mas a vizinha a dona Maria tem. Ela é boazinha que o senhor precisa de ver!! Sempre que a gente precisa ela deixa usar.
- E a senhora é boa para anotar recado?
- Ah moço, vou ter que ser sincera com o senhor, eu sou meia avoada sabe, as vezes eu esqueço as coisas.
- Mas a senhora não anota os recados?
- É que não tenho muito estudo não sabe, mas eu sei escrever muito bem só não sei ler aí não consigo entender o que eu escrevo.
- Ah...
- Essa entrevista ainda vai demorar muito?
- Não, porque?
- É que eu tô com um pouco de pressa.
- A senhora tem algum compromisso?
- Não é compromisso não!! É que eu tenho que pegar os mininu na casa da vizinha. Ela ficou de olhar eles pra mim mas eu não posso demorar não. O marido dela é bravo e não gosta de criança. Sabe, eu tenho é dó dela. Tão boa, merecia coisa melhor que aquele traste.
- Sei...
- E então moço, já posso ir?
- Pode claro. Qualquer coisa nós telefonamos para senhora.
- Ih moço, como eu já falei pro senhor eu não tenho telefone não e a minha vizinha, a dona Maria, já falei dela pro senhor lembra?
- Lembro sim.
- Então, ela teve que viajar pra cuidar da mãe dela que tá doente tadinha. Mas o senhor pode ligar pro orelhão e pedir pra chamar a Ana do Moisés que eles chamam.
- Ana do Moisés?
- É. Moisés era meu falecido marido mas lá todo mundo me chama assim.
- Tudo bem, a senhora pode deixar seu telefone com a secretária.
- Ih de cabeça eu não sei não, mas o senhor falar pra ela olhar naquele livro de telefones que lá tem. Tem tanto número porque é que não havia de ter esse né?
- Tudo bem, eu peço pra ela olhar.
- Então eu já vou indo.
- Tudo bem, até mais ver.
- Até mais.
...
- Próximo!!