domingo, 18 de novembro de 2007

A terapia.

-Terapia?
-É, terapia.
-Você está me chamando de louca?
-Não é isso Sílvia, mas eu acho que a terapia pode ajudar você se controlar um pouco melhor.
-Oque? Além de louca está me chamando de descontrolada?
-Não, o que quero dizer é que...
-Chega! Não quero mais falar sobre isso, não vou fazer terapia e pronto! Era só o que me faltava!
-Mas Sílvia, eu acho...
-Não me interessa o que você acha, não quero mais falar sobre isso. Eu me irrito um pouquinho e você já quer me interditar.
Não tem jeito não importa o que eu diga, a Silvia sempre interpreta tudo errado. Tudo bem que ela sempre foi meio irritada, geniosa, mas com a gravidez parece que a coisa só piorou. Anda estressada, mal humorada, sensível e como sei que essas coisas não fazem bem para o bebê resolvi sugerir a terapia, mas antes tivesse ficado quieto viu, ela simplesmente se descontrolou. Chorou, gritou, me acusou de mil coisas e provavelmente vai ficar uns dois dias sem falar comigo. É sempre assim, desde que nos conhecemos que ela para de falar comigo quando fica brava. Na verdade nosso relacionamento tem sido meio aos trancos e barrancos desde o nosso primeiro encontro, e que encontro!
-Se desastrado!
-Como é que é?
-Isso mesmo, você devia olhar por onde anda!
-Mas foi você quem esbarrou em mim!
-Mas é claro que não! Você que não olha por onde anda e acabou derrubando todos os meus projetos no chão. Se tiver estragado algum eu juro que mato você!
E foi assim nosso primeiro encontro. Ela atrasada par uma reunião acabou esbarrando em mim e derrubando todos os projetos da empresa para a qual estava trabalhando. Meia hora depois descobrimos que iríamos trabalhar juntos. Ela era a arquiteta responsável pela obra e eu o diretor de publicidade.
Foi antipatia a primeira vista, ela sempre discordava de mim nas reuniões além de me chamar de imaturo, irresponsável, etc e tal. Não paramos de brigar nem o dia em que demos nosso primeiro beijo.
Tínhamos ido para um bar com uns amigos depois do expediente e o carro dela acabou quebrando, quer dizer, era falta de gasolina mas ela jura que nunca esqueceria de encher o tanque. O fato é que depois de oferecer uma carona ficamos presos por causa da chuva e aí já viram né. O pior foi que ela e me acusou de ter planejado tudo para me aproveitar da situação. Essa é a Sílvia, a mulher mais incrível, inteligente, requintada e estressada, mandona e geniosa que eu conheço mas confesso que foi esse geniosinho difícil que me chamou atenção nela. Como alguém pode ser tão meiga e ao mesmo tempo tão cabeça dura? Agora ela está lá trancada no quarto brava comigo e como eu já previa, deixou meu travesseiro com um edredom do lado de fora da porta. Sabe, acho que já estou me acostumando a dormir no sofá.

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